sábado, 6 de março de 2010

Psiquiatria Cultural estuda tratamentos diferenciados


Aspectos culturais influenciam o surgimento e o tratamento de diversas doenças mentais. É o que dizem os especialistas de um ramo de estudo desconhecido no Brasil, que chama a atenção para a relação entre aspectos sócio-culturais e saúde mental. Existente desde a década de 60, a etnopsiquiatria ou psiquiatria cultural vem ganhando força em diversos países, que já atuam com cuidado em sociedades nativas, e preservam suas formas tradicionais de cura e religião.

As taxas de suicídio no mundo mostram como a cultura atinge a saúde mental. Sabe-se que 90% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar e alcoolismo (dados da OMS). No Brasil, o índice de suicídio é de 5 para cada 100 mil mortes. A média européia é de 20. Países como Hungria e Lituânia têm índices em torno de 60. Entre os índios brasileiros, há apenas um suicídio a cada 100 mil mortes. Por outro lado, se isolarmos a tribo índigena guarani-caiuás, o índice sobre para espantosos 600 suicídios a cada 100 mil mortes.

Para discutir este assunto, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) realizará, durante seu congresso anual (25 a 28 de outubro, em Curitiba), uma mesa-redonda com especialistas da área. O coordenador da atividade, psiquiatra Marcos de Noronha, diz que aspectos sócio-culturais são importantes no surgimento de diversos transtornos e devem ser utilizados no tratamento destas doenças. “Estive na China recentemente e encontrei um distúrbio específico de cultura, que aparece somente naquela população, conhecido como ‘latha’”, explica.

Para exemplificar como os costumes de uma determinada população podem ajudar no tratamento de doenças mentais, Noronha cita um trabalho desenvolvido com populações da região amazônica. “Criaram a Terapia Comunitária Perambulante, que consistia no treinamento de famílias e grupos locais para o acompanhamento de pacientes esquizofrênicos. Com isso, a média de tempo de internação chegou a 5 dias. Em todo país, essa média é de 15 dias”, relata.

Ainda segundo Noronha, existe um grande desafio para a psiquiatria cultural no Brasil. A grande diversidade de povos e costumes espalhados pelas regiões do país amplia a necessidade de se desenvolver trabalhos específicos para cada comunidade. “Exatamente por isso a oportunidade que a ABP oferece a especialistas de todo o país é tão importante”, explica.

Danilo Maeda
Assessoria de Imprensa ABP
(11) 4123.1419

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